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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Puxada de Cavalos: covardia e crime



Segundo o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) cultura é todo o conjunto de diretrizes que incluam o conhecimento, a crença, a arte, a moral, a lei e os costumes adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

Cultura necessita de história. É comum se afirmar que o tempo que abrange os alicerces de uma tradição é o que, juntamente com sua relevância para toda uma comunidade, a torna cultura. Costumes recentes que tenham relevante importância cultural são tendência, enquanto eventos recentes com pouca importância são apenas eventos.

Um exemplo disso é o mercado de smarthphones, que tem crescido exponencialmente. Contudo, apesar de sua popularidade, não existe a ‘Cultura dos Smarthphones’.

O Carnaval, que foi criado no século XI e se tornou um grande movimento popular no Brasil há mais de um século, misturando as tradições trazidas da Europa com os costumes dos escravos recém libertados de seu cárcere na abjeta escravidão brasileira.

Cultura deve ter história, relevância para a comunidade, contribuição para a Ciência ou para a Arte, além de necessitar de embasamento de ordem moral (mesmo o Carnaval, nos primórdios, o tinha).

E nada disso pode ser dito sobre a malfadada Puxada de Cavalos de Pomerode.

Até mesmo os Rodeios têm a desculpa de ser um movimento cultural, apesar de sua relevância ter existido apenas no século XIX, quando os cavalos eram o meio de transporte mais popular para todos, sendo algumas décadas depois substituído pelo automóvel.

Essa palhaçada armada pela cidade mais germânica do Brasil em nada tem a ver com a Alemanha. Foi criada a cerca de 15 anos para que pessoas com baixíssimo nível intelectual tentassem demonstrar a virilidade que possivelmente não têm através da força de seus cavalos competindo com amigos, vizinhos e pessoas do mesmo nível.

 O comentário sobre a virilidade faz-se mister se considerarmos que, em muitas correntes da psicanálise, pessoas inseguras em relação ao próprio desempenho masculino precisam refletir em outros meios – sejam automóveis, armas ou cavalos – aquilo que julgam não ter.

Esse movimento organizado pelo Clube do Cavalo de Pomerode não apenas vai contra os Direitos dos Animais, como já ocasionou um ato de crime contra a pessoa humana, em 2010.

Para quem não se lembra, naquele ano, voluntários das ONGs AMA Bichos e APRABLU estavam nas proximidades do Ribeirão Souto (Pomerode) protestando pacificamente pelos direitos dos animais, apenas com faixas e de forma silenciosamente civilizada. Repentinamente eles começaram a ser apredejados por participantes e organizadores da puxada, que partiram para cima dos membros das ONGs e os agrediram com socos, chutes e pedaços de pau.

A empresária Bárbara Lebrecht, na época presidente da APRABLU, foi empurrada e quebrou a perna em um crime que a obrigou a passar por cirurgias. O cinegrafista Luiz Deluca, da TVBV, foi prensado contra arames farpados e espancado, tendo seu equipamento quebrado. Patrícia Luz levou uma paulada na cabeça e foi encaminhada às pressas ao Hospital Santa Isabel, de Blumenau, com suspeitas de traumatismo craniano. Outras três pessoas foram hospitalizadas em Pomerode.

Esse é o retrato dos apreciadores da Puxada de Cavalos. Gente que não se importa em ferir gente.

Boa parte dos envolvidos está sob investigação e muitos deles estão respondendo processos criminais devido aos ferimentos que causaram nos manifestantes.

Ainda assim essa pratica hedionda, ignorante e deselegante continua acontecendo em Pomerode, prestando um desserviço para Santa Catarina (cujo turismo sofre por práticas lamentáveis como esta ou a Farra do Boi). O pior é que o evento tem o apoio da prefeitura.

Fontes nos informam que cerca de 600 pessoas fazem parte do clube que organiza essa prática patética e que o prefeito Paulo Pizzolatti é condescendente, pois boa parte do seu eleitorado aprecia o evento.

Sinceramente: se uma parte tão grande assim dos cidadãos de Pomerode é conivente e até admiradora de um ato tão repugnante, isso justifica a fama da cidade de ter o maior número percentual de suicídios do Brasil (algo do qual muitos, inclusive, se orgulham).

Não entendam esse texto como uma crítica à cidade de Pomerode, por esta é belíssima e sabe receber de forma muito agradável os seus visitantes. Tampouco é uma crítica ao bom povo daquele lugar, sendo a grande maioria composta por excelentes pessoas com as quais trabalhamos, convivemos e temos amizade. A crítica é relação aos indivíduos que se colocam acima da Lei e acabam maculando a imagem da população de toda uma cidade.

Tamanho é o poder de persuasão desses criminosos (sim, depois de 2010 é legalmente aceitável chamá-los assim) que o prefeito prefere fazer vista grossa a combater esse crime. Na ocasião da confusão, até mesmo a polícia local se viu de mãos atadas.

Mesmo assim, nesse domingo (29/04) manifestantes da AMA Bichos e da 'Entre Cães e Gatos' mais uma vez foram ao local para um protesto pacífico, como visto nas fotos abaixo.

Sinceramente, no lugar deles, eu iria armado.

Se bem que, se essa corja de meliantes é tão truculenta a ponto de usar paus e pedras contra manifestantes pacíficos, talvez sequer valham a bala de uma calibre 12. 







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