Segundo o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor
(1832 – 1917) cultura é todo o conjunto de diretrizes que incluam o
conhecimento, a crença, a arte, a moral, a lei e os costumes adquiridos pelo
homem como membro da sociedade.
Cultura necessita de história. É comum se afirmar que o
tempo que abrange os alicerces de uma tradição é o que, juntamente com sua
relevância para toda uma comunidade, a torna cultura. Costumes recentes que
tenham relevante importância cultural são tendência, enquanto eventos recentes
com pouca importância são apenas eventos.
Um exemplo disso é o mercado de smarthphones, que tem
crescido exponencialmente. Contudo, apesar de sua popularidade, não existe a ‘Cultura
dos Smarthphones’.
O Carnaval, que foi criado no século XI e se tornou um
grande movimento popular no Brasil há mais de um século, misturando as
tradições trazidas da Europa com os costumes dos escravos recém libertados de
seu cárcere na abjeta escravidão brasileira.
Cultura deve ter história, relevância para a comunidade,
contribuição para a Ciência ou para a Arte, além de necessitar de embasamento
de ordem moral (mesmo o Carnaval, nos primórdios, o tinha).
E nada disso pode ser dito sobre a malfadada Puxada de
Cavalos de Pomerode.
Até mesmo os Rodeios têm a desculpa de ser um movimento
cultural, apesar de sua relevância ter existido apenas no século XIX, quando os
cavalos eram o meio de transporte mais popular para todos, sendo algumas
décadas depois substituído pelo automóvel.
Essa palhaçada armada pela cidade mais germânica do
Brasil em nada tem a ver com a Alemanha. Foi criada a cerca de 15 anos para que
pessoas com baixíssimo nível intelectual tentassem demonstrar a virilidade que
possivelmente não têm através da força de seus cavalos competindo com amigos,
vizinhos e pessoas do mesmo nível.
O comentário sobre
a virilidade faz-se mister se considerarmos que, em muitas correntes da
psicanálise, pessoas inseguras em relação ao próprio desempenho masculino
precisam refletir em outros meios – sejam automóveis, armas ou cavalos – aquilo
que julgam não ter.
Esse movimento organizado pelo Clube do Cavalo de
Pomerode não apenas vai contra os Direitos dos Animais, como já ocasionou um
ato de crime contra a pessoa humana, em 2010.
Para quem não se lembra, naquele ano, voluntários das
ONGs AMA Bichos e APRABLU estavam nas proximidades do Ribeirão Souto (Pomerode)
protestando pacificamente pelos direitos dos animais, apenas com faixas e de
forma silenciosamente civilizada. Repentinamente eles começaram a ser
apredejados por participantes e organizadores da puxada, que partiram para cima
dos membros das ONGs e os agrediram com socos, chutes e pedaços de pau.
A empresária Bárbara Lebrecht, na época presidente da
APRABLU, foi empurrada e quebrou a perna em um crime que a obrigou a passar por
cirurgias. O cinegrafista Luiz Deluca, da TVBV, foi prensado contra arames
farpados e espancado, tendo seu equipamento quebrado. Patrícia Luz levou uma
paulada na cabeça e foi encaminhada às pressas ao Hospital Santa Isabel, de
Blumenau, com suspeitas de traumatismo craniano. Outras três pessoas foram
hospitalizadas em Pomerode.
Esse é o retrato dos apreciadores da Puxada de Cavalos.
Gente que não se importa em ferir gente.
Boa parte dos envolvidos está sob investigação e muitos
deles estão respondendo processos criminais devido aos ferimentos que causaram
nos manifestantes.
Ainda assim essa pratica hedionda, ignorante e
deselegante continua acontecendo em Pomerode, prestando um desserviço para
Santa Catarina (cujo turismo sofre por práticas lamentáveis como esta ou a
Farra do Boi). O pior é que o evento tem o apoio da prefeitura.
Fontes nos informam que cerca de 600 pessoas fazem parte
do clube que organiza essa prática patética e que o prefeito Paulo Pizzolatti é
condescendente, pois boa parte do seu eleitorado aprecia o evento.
Sinceramente: se uma parte tão grande assim dos cidadãos
de Pomerode é conivente e até admiradora de um ato tão repugnante, isso
justifica a fama da cidade de ter o maior número percentual de suicídios do
Brasil (algo do qual muitos, inclusive, se orgulham).
Não entendam esse texto como uma crítica à cidade de
Pomerode, por esta é belíssima e sabe receber de forma muito agradável os seus
visitantes. Tampouco é uma crítica ao bom povo daquele lugar, sendo a grande
maioria composta por excelentes pessoas com as quais trabalhamos, convivemos e
temos amizade. A crítica é relação aos indivíduos que se colocam acima da Lei e
acabam maculando a imagem da população de toda uma cidade.
Tamanho é o poder de persuasão desses criminosos (sim,
depois de 2010 é legalmente aceitável chamá-los assim) que o prefeito prefere
fazer vista grossa a combater esse crime. Na ocasião da confusão, até mesmo a
polícia local se viu de mãos atadas.
Mesmo assim, nesse domingo (29/04) manifestantes da AMA
Bichos e da 'Entre Cães e Gatos' mais uma vez foram ao local para um protesto pacífico, como
visto nas fotos abaixo.
Sinceramente, no lugar deles, eu iria armado.
Se bem que, se essa corja de meliantes é tão truculenta a
ponto de usar paus e pedras contra manifestantes pacíficos, talvez sequer
valham a bala de uma calibre 12.
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