Queria muito poder dizer que a decepção com o circo
armado nessa quarta-feira (18/04) sob o nome de Audiência Pública foi apenas
com os parlamentares. Infelizmente, não foi.
A audiência foi convocada pelo vereador Vanderlei de
Oliveira (PT) que após aprovar junto com seus colegas da Câmara um aumento no
salário de seus próprios cargos em Dezembro de 2011, protocolou um projeto para
revogar o aumento que ele mesmo aprovou.
A primeira atitude do vereador foi afirmar com veemência
a importância do cargo que exerce para toda a comunidade e dizer que ‘vereador’
é um termo que não possui definição. Claro que o bom e velho Aurélio – o
dicionário mais popular do Brasil – discorda. Para ele vereador é um
substantivo masculino que é atribuído ao membro de uma câmara municipal.
Também em resposta ao excelentíssimo vereador que alegou
que a maioria dos países do mundo tem vereadores, bem, estes são: África do
Sul, Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França,
Itália, Moçambique, Portugal, Reino Unido e Romênia.
Certamente 14 países (contando conosco) passam muito
longe de ser maioria.
A segunda atitude do representante do Partido dos
Trabalhadores foi de forma grotesca dizer que a reunião antidemocrática na qual
foi aprovado o aumento dos 35% do salário para a cidade não pode ser chamada de
‘secreta’. Ora vereador, ou agora existe outro sinônimo para congressos que
ocorrem sem aviso na calada da noite ou o senhor insultou nossa inteligência!
Como um advogado que depois de afirmar uma mentira joga um assunto
polêmico no ar para revoltar os que lhe ouvem e fazer com que esqueçam o que
foi dito anteriormente, o vereador logo começou a dizer que o salário de seus
colegas em Blumenau era vergonhoso.
Hábil, ele logo justificou dizendo que seu parâmetro de
comparação não eram os salários das pessoas comuns, mas sim dos vereadores de
outras cidades.
Que a intenção da maioria dos políticos do Brasil é
sempre nivelar seus interesses financeiros para cima, é tanto fato quanto
incoerência. Onde um funcionário ganha mais do que seu patrão? E o que são os
vereadores além de funcionários do povo? E o que é o povo – nós – além de o
patrão de uma camarilha que cada vez lucra mais às custas dos empresários que
sustentam o país e dos assalariados que são o alicerce de toda a economia?
Para endossar sua falácia absurda, o parlamentar que mais
tem se contradito na Câmara Municipal de Blumenau trouxe consigo o presidente
da Câmara dos Vereadores de Florianópolis.
Mas tanto a atitude dele quanto a de seus colegas – que subiram
ao púlpito para defender a postura que tomaram em Dezembro de 2011 – era de se
esperar.
É o que vem a seguir que realmente prova que o Brasil é o
país do oportunismo.
Convidada a subir ao púlpito, a Sra. Ivone Gnewuch,
coordenadora da UNIBLAM (União das Associações de Moradores) criticou a
população, defendendo os vereadores. Alegou que as pessoas só fazem aquilo que
a imprensa alardeia e disse estar decepcionada com o fato de haver apenas cerca
de 20 pessoas na Câmara naquele momento.
Ora, dona Ivone, decepção maior é ver que dos 15 vereadores
de Blumenau, apenas nove tiveram hombridade o bastante para dar a cara a bater
diante da comunidade.
O representante da UCE (União Catarinense dos
Estudantes), Tiago Werner, tomou a palavra e alegou não questionar valores, mas
sim a falta de participação do povo nas decisões parlamentares. No entanto, foi
bastante elogioso e cortez em relação aos vereadores presentes. Mais do que cabia ao momento!
Já o senhor Marco Antônio André, representante do Partido
Pátria Livre – que existe apenas a cerca de dois anos – demonstrou acreditar que
o povo não reclamaria por pagar se visse seus representantes trabalhando de
verdade em prol de coisas importantes como saúde e educação. Contudo, terminou
sua fala com uma sutil e inapropriada propaganda partidária.
Mas a grande decepção foi a coordenadora do SINTRASEB,
Sueli Adriano, que em um primeiro momento falou muito bem, afirmando que o que
mais assusta a sociedade são os acordos firmados a portas fechadas. No entanto,
logo em seguida, ela afirmou que se os vereadores ganham aumento em relação a
uma defasagem salarial, então os servidores públicos – a quem ela representa –
também deveriam poder. E é isso que ela espera.
Isso foi nitidamente como dizer: “Sei que vocês agiram de forma corrupta e não me importa com a corrupção desde que eu e
aqueles a quem represento também lucrem com isso”.
Mais do que lamentável, vergonhoso.
Cada um dos citados acima – e os não-citados sequer mereceram
menção – demonstrou com clareza a intenção de defender os próprios interesses e
não os da comunidade.
Contudo, não espanta que os dois únicos indivíduos que
foram à frente do plenário e concretamente defenderam os interesses da
cidade foram dois empresários: Ronaldo Baumgarten (presidente da ACIB) e
Paulo Lopes (presidente da CDL) que, ao contrário dos vereadores, sequer
recebem salários pelos cargos que ocupam nas instituições que presidem.
Ronaldo Baumgarten falou de forma diplomática e deixou
claro que, no final das contas, são os vereadores quem decidirão. No entanto,
foi brilhante ao dizer: “nós estamos
acostumados a lidar com a concorrência diariamente, mas vocês apenas a vêem de
quatro em quatro anos”.
Não menos eloquente, Paulo Lopes tomou a palavra e
questionou o porquê de essa audiência estar acontecendo depois e não antes do
aumento salarial dos parlamentares. Criticou a forma como a reunião na qual
esse aumento foi aprovado e discordou da dona Ivone dizendo crer que a ausência
de público na Câmara não era desinteresse, mas sim descrença.
E de fato, pouca gente acreditava que essa audiência ia
surtir algum efeito real.
Mais uma vez o vereador Vanderlei de Oliveira tomou a
palavra dizendo que foi impossível marcar uma reunião com a comunidade antes de
aprovar o aumento, mas em momento algum explicou o que era essa impossibilidade
tão periclitante.
Para quem não lembra, a discussão sobre o aumento ocorreu
numa noite que antecedia o dia para o qual a mesma estava marcada e o
presidente da Câmara, Jovino Cardoso, quando entrevistado poucas horas antes da
reunião chegou a desmentir que esse aumento aconteceria. E agora? Todo mundo
esqueceu isso?
Para fechar com chave de ouro a audiência, o presidente
da Câmara de Florianópolis – Jaime Tonello – teve a petulância de dizer: “Quanto vale um vereador para atuar 24 horas
por dia?”.
Pois bem Sr. Tonello: mostre-nos um vereador que trabalhe
24 horas por dia que poderemos fazer um cálculo para o senhor. Aliás, aponte um
único que trabalhe nove horas por dia, cinco dias por semana e receba apenas o
décimo terceiro no final do ano que poderemos então lhe dizer que este vereador
talvez valha um salário mínimo, talvez até uns R$ 1 mil mensais.
Para finalizar o espetáculo, o projeto para anulação do
aumento ainda está sob análise, a maioria da mesa é contrária a eles e sequer
vendiam pipocas para assistirmos ao espatáculo apresentado por péssimos atores..
Podemos sim, senhores, definir o que é um vereador. Não
podemos contar com a maioria deles ou sequer acreditar. Mas qualquer dicionário
os define. O que não se pode definir é merecimento e, principalmente, alguém
que mereça algo. Então dizer que vereadores ganham mais do que seus reais
patrões porque merecem, é chamar o povo de inútil.
E considerando todos os benefícios e todos o dinheiro que
foi tomado da comunidade pela classe política, parece que a única coisa que
ainda falta tomarem é vergonha na cara!
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