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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Audiência Pública sobre o reajuste salarial dos vereadores: no picadeiro da política!!!


Queria muito poder dizer que a decepção com o circo armado nessa quarta-feira (18/04) sob o nome de Audiência Pública foi apenas com os parlamentares. Infelizmente, não foi.

A audiência foi convocada pelo vereador Vanderlei de Oliveira (PT) que após aprovar junto com seus colegas da Câmara um aumento no salário de seus próprios cargos em Dezembro de 2011, protocolou um projeto para revogar o aumento que ele mesmo aprovou.

A primeira atitude do vereador foi afirmar com veemência a importância do cargo que exerce para toda a comunidade e dizer que ‘vereador’ é um termo que não possui definição. Claro que o bom e velho Aurélio – o dicionário mais popular do Brasil – discorda. Para ele vereador é um substantivo masculino que é atribuído ao membro de uma câmara municipal.

Também em resposta ao excelentíssimo vereador que alegou que a maioria dos países do mundo tem vereadores, bem, estes são: África do Sul, Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Moçambique, Portugal, Reino Unido e Romênia.

Certamente 14 países (contando conosco) passam muito longe de ser maioria.

A segunda atitude do representante do Partido dos Trabalhadores foi de forma grotesca dizer que a reunião antidemocrática na qual foi aprovado o aumento dos 35% do salário para a cidade não pode ser chamada de ‘secreta’. Ora vereador, ou agora existe outro sinônimo para congressos que ocorrem sem aviso na calada da noite ou o senhor insultou nossa inteligência!

Como um advogado que depois de afirmar uma mentira joga um assunto polêmico no ar para revoltar os que lhe ouvem e fazer com que esqueçam o que foi dito anteriormente, o vereador logo começou a dizer que o salário de seus colegas em Blumenau era vergonhoso.

Hábil, ele logo justificou dizendo que seu parâmetro de comparação não eram os salários das pessoas comuns, mas sim dos vereadores de outras cidades.

Que a intenção da maioria dos políticos do Brasil é sempre nivelar seus interesses financeiros para cima, é tanto fato quanto incoerência. Onde um funcionário ganha mais do que seu patrão? E o que são os vereadores além de funcionários do povo? E o que é o povo – nós – além de o patrão de uma camarilha que cada vez lucra mais às custas dos empresários que sustentam o país e dos assalariados que são o alicerce de toda a economia?

Para endossar sua falácia absurda, o parlamentar que mais tem se contradito na Câmara Municipal de Blumenau trouxe consigo o presidente da Câmara dos Vereadores de Florianópolis.

Mas tanto a atitude dele quanto a de seus colegas – que subiram ao púlpito para defender a postura que tomaram em Dezembro de 2011 – era de se esperar.

É o que vem a seguir que realmente prova que o Brasil é o país do oportunismo.

Convidada a subir ao púlpito, a Sra. Ivone Gnewuch, coordenadora da UNIBLAM (União das Associações de Moradores) criticou a população, defendendo os vereadores. Alegou que as pessoas só fazem aquilo que a imprensa alardeia e disse estar decepcionada com o fato de haver apenas cerca de 20 pessoas na Câmara naquele momento.

Ora, dona Ivone, decepção maior é ver que dos 15 vereadores de Blumenau, apenas nove tiveram hombridade o bastante para dar a cara a bater diante da comunidade.

O representante da UCE (União Catarinense dos Estudantes), Tiago Werner, tomou a palavra e alegou não questionar valores, mas sim a falta de participação do povo nas decisões parlamentares. No entanto, foi bastante elogioso e cortez em relação aos vereadores presentes. Mais do que cabia ao momento!

Já o senhor Marco Antônio André, representante do Partido Pátria Livre – que existe apenas a cerca de dois anos – demonstrou acreditar que o povo não reclamaria por pagar se visse seus representantes trabalhando de verdade em prol de coisas importantes como saúde e educação. Contudo, terminou sua fala com uma sutil e inapropriada propaganda partidária.

Mas a grande decepção foi a coordenadora do SINTRASEB, Sueli Adriano, que em um primeiro momento falou muito bem, afirmando que o que mais assusta a sociedade são os acordos firmados a portas fechadas. No entanto, logo em seguida, ela afirmou que se os vereadores ganham aumento em relação a uma defasagem salarial, então os servidores públicos – a quem ela representa – também deveriam poder. E é isso que ela espera.

Isso foi nitidamente como dizer: “Sei que vocês agiram de forma corrupta e não me importa com a corrupção desde que eu e aqueles a quem represento também lucrem com isso”.

Mais do que lamentável, vergonhoso.

Cada um dos citados acima – e os não-citados sequer mereceram menção – demonstrou com clareza a intenção de defender os próprios interesses e não os da comunidade.

Contudo, não espanta que os dois únicos indivíduos que foram à frente do plenário e concretamente defenderam os interesses da cidade foram dois empresários: Ronaldo Baumgarten (presidente da ACIB) e Paulo Lopes (presidente da CDL) que, ao contrário dos vereadores, sequer recebem salários pelos cargos que ocupam nas instituições que presidem.

Ronaldo Baumgarten falou de forma diplomática e deixou claro que, no final das contas, são os vereadores quem decidirão. No entanto, foi brilhante ao dizer: “nós estamos acostumados a lidar com a concorrência diariamente, mas vocês apenas a vêem de quatro em quatro anos”.

Não menos eloquente, Paulo Lopes tomou a palavra e questionou o porquê de essa audiência estar acontecendo depois e não antes do aumento salarial dos parlamentares. Criticou a forma como a reunião na qual esse aumento foi aprovado e discordou da dona Ivone dizendo crer que a ausência de público na Câmara não era desinteresse, mas sim descrença.

E de fato, pouca gente acreditava que essa audiência ia surtir algum efeito real.

Mais uma vez o vereador Vanderlei de Oliveira tomou a palavra dizendo que foi impossível marcar uma reunião com a comunidade antes de aprovar o aumento, mas em momento algum explicou o que era essa impossibilidade tão periclitante.

Para quem não lembra, a discussão sobre o aumento ocorreu numa noite que antecedia o dia para o qual a mesma estava marcada e o presidente da Câmara, Jovino Cardoso, quando entrevistado poucas horas antes da reunião chegou a desmentir que esse aumento aconteceria. E agora? Todo mundo esqueceu isso?

Para fechar com chave de ouro a audiência, o presidente da Câmara de Florianópolis – Jaime Tonello – teve a petulância de dizer: “Quanto vale um vereador para atuar 24 horas por dia?”.

Pois bem Sr. Tonello: mostre-nos um vereador que trabalhe 24 horas por dia que poderemos fazer um cálculo para o senhor. Aliás, aponte um único que trabalhe nove horas por dia, cinco dias por semana e receba apenas o décimo terceiro no final do ano que poderemos então lhe dizer que este vereador talvez valha um salário mínimo, talvez até uns R$ 1 mil mensais.

Para finalizar o espetáculo, o projeto para anulação do aumento ainda está sob análise, a maioria da mesa é contrária a eles e sequer vendiam pipocas para assistirmos ao espatáculo apresentado por péssimos atores..

Podemos sim, senhores, definir o que é um vereador. Não podemos contar com a maioria deles ou sequer acreditar. Mas qualquer dicionário os define. O que não se pode definir é merecimento e, principalmente, alguém que mereça algo. Então dizer que vereadores ganham mais do que seus reais patrões porque merecem, é chamar o povo de inútil.

E considerando todos os benefícios e todos o dinheiro que foi tomado da comunidade pela classe política, parece que a única coisa que ainda falta tomarem é vergonha na cara!

















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