Desde a Antiguidade os povos costumam celebrar o
Equinócio da Primavera: época na qual o Sol está perfeitamente alinhado em
ambos os lados do planeta e que costuma ocorrer por volta do dia 21 de Março no
Hemisfério Norte.
Desde os egípcios aos gregos, esse costume sempre foi uma
das mais fortes tradições da humanidade.
Geralmente essas civilizações comemoravam a data fazendo
oferendas a deusas da fertilidade – como Ishtar, Ostara, Deméter, Céres ou
Eostre – para que as colheitas daquele ano fossem fartas e as presas estivessem
abundantes para os caçadores.
A iconografia mitológica representa a maioria dessas
divindades como belas mulheres segurando um ovo, sendo que ambos significam
renovação e renascimento. A deusa nórdica Eostre era, por exemplo, representada
segurando um ovo e apreciando uma lebre. Os sacerdotes acreditavam que enterrar
um ovo fertilizava o solo para colheitas futuras e que olhar as entranhas de
uma lebre predizia o futuro, de onde surgiu os versos: “Lebre de Eostre/ Qual sorte tuas entranhas me trazem?” (este,
séculos mais tarde, inspiraria a popular e mundialmente conhecida cantiga ‘Coelhinho
da Páscoa’).
Por volta do século XIV a.C. ocorreu o Êxodo, que foi a
libertação do povo judeu do cativeiro imposto a ele pelos egípcios, cuja figura
principal é Moisés.
A Tanakh – a bíblia judaica da qual faz parte, por
exemplo, a Torá – conta a luta de Moisés contra um faraó não-identificado (que
pode ter sido Ramsés, Ahmose, Tutmés III ou nenhum deles) para libertar seu
povo do cárcere egípcio e guiá-los à Terra Prometida. Segundo o texto, depois
de enfrentar 10 pragas enviadas pelo Deus de Abraão o faraó os deixou partir.
Em Êxodo 12,14 da bíblia judaica, ficou instituído o
Pessach (ou, ‘passagem’): “Conservareis a
memória daquele dia celebrando-o como uma grande festa em honra de Adonai; Fareis
isto de geração em geração, pois é esta uma instituição perpétua”.
Data celebrada, segundo a tradição, há 3.500 anos, o
Pessach costuma acontecer em 14 de Nissan, data do Calendário Judaico que
coincide com o início da Primavera no Hemisfério Norte.
Já no ano 33 da Era Comum ocorreu a ressurreição de
Cristo, na mesma época.
Muitos historiadores crêem que a última ceia era, na
verdade, a celebração do Pessach por Jesus e seus discípulos, o que faz muito
sentido por ele ser judeu.
Preso nesta mesma noite por uma provável traição de Judas
Iscariotes, Jesus não pôde ser julgado devido à Corte Judaica não poder se
reunir durante o Pessach e a Lei Romana proibida que se condenasse um homem à
morte durante essa celebração. Então Jesus ficou na casa do sumo sacerdote
Caifás e depois, ao afirmar ser filho de Deus, foi condenado por blasfêmia.
Os líderes judeus então levaram Jesus até Pôncio Pilatos –
governador da província romana da Judéia – e exigiram que ele condenasse Jesus
por alegar ser rei dos judeus, pois caso não o fizesse, Pilatos poderia ser
acusado de estar traindo Roma.
Pelo fato de Jesus ser galileu, o governador da Judéia o
mandou para que Herodes Antipas, governador da Galiléia, o julgasse. Herodes
caçoou de Jesus e o devolveu a Pilatos trajado de rei.
Como era comum os governantes romanos darem liberdade a
prisioneiros judeus na época do Pessach, Pilatos colocou lado a lado Jesus e
Barrabás – segundo a tradição cristã – e deixou o povo decidir qual dos dois
seria libertado. Barrabás foi o escolhido e Jesus, o condenado.
Após esse episódio conhecido como ‘Ecce Homo’, Jesus
Cristo fora flagelado e crucificado entre dois ladrões, sendo morto no final
pela lança de São Longino.
Após a execução de Jesus Cristo, em uma sexta-feira, José
de Arimatéia e Nicodemos recolheram o corpo do filho de Maria e o levaram para
um túmulo recém-aberto, envolvendo-o em um sudário e fechando a entrada com uma
pedra.
No domingo – exatos quarenta dias depois do Carnaval
(festa essa comemorada pelos gregos desde o século V a.C.) – Maria Madalena
fora ao túmulo de Jesus, encontrando sua entrada aberta e o local vazio.
Cristo, segundo a crença cristã, havia ressuscitado, aparecendo primeiro para
ela e Pedro Simão.
O livro de Atos dos Apóstolos afirma que Jesus continuou
aparecendo aos seus discípulos por quarenta dias para terminar seus ensinamentos
antes de sua ascensão.
Desde então, a tradição cristã passou a considerar o
período como a época da ressurreição de Cristo.
O nome da época pode ser de origem latina (Páscoa em
português, Pascua em espanhol, Pâques em francês, Páscha em grego, Pasqua em
italiano, Paşti em romeno ou Paskha em russo), que
advém da festa judaica Pessach. Também há os nomes que provém de origens
anglo-saxãs (Easter em inglês ou Ostern em alemão), que podem se referir à
deusa da fertilidade Ishtar, venerada pelos acádios e transformada em Easter pelos
nórdicos.
Já as lebres (ou coelhos) sempre foram um símbolo da
Primavera para os europeus, assim como os ovos representavam a fertilidade e o
recomeço de tudo.
Quando os cristãos começaram a celebrar a sua Páscoa,
resolveram adotar elementos da cultura pagã (como também o fizeram com a
cultura judaica) para popularizar sua fé. Assim os ovos voltaram a ser usados
como tradição da época, como acontecia muito antes de Cristo.
Essas tradições – que costumavam consistir de ovos
coloridos – eram comuns na Europa Oriental e chegaram à Inglaterra através do
rei Eduardo I, que oferecia ovos banhados em ouro aos seus súditos preferidos
no século XII.
Na França do século XVII o rei Luís XIV iniciou um
costume de presentear pessoas com ovos artificiais nessa época, tornando a
prática bastante cultuada.
Assim como isso inspirou o joalheiro russo Peter Carl
Fabergé na concepção de suas magníficas jóias em forma de Ovos de Páscoa a
partir de 1885, pâtissiers (doceiros)
franceses começaram a confecção rudimentar de ovos de galinha recheados de
chocolate, até que a tecnologia permitiu a criação de ovos totalmente feitos do
doce e com diversos recheios.
Seja para os pagãos que esperavam boas colheitas, os
judeus que celebravam sua liberdade ou os cristãos que comemoravam a volta do
seu mestre, essa época é um momento de transformação.
De qualquer forma, mesmo que essa data seja comemorada
apenas por religiões judaico-cristãs e culturas pagãs – e independente de você
ser católico, evangélico, judeu, espírita, budista, xintoísta, islâmico ou
ocultista – qualquer momento é oportuno para transformação.
O Verão acabou, o Outono veio para nós do Hemisfério Sul
e com ele as folhas secas começam a se espalhar pelo chão, na espera do Inverno
que virá. E mesmo que as flores não estejam no cume de seu esplendor, logo virá
a Primavera e elas voltarão a desabrochar, enchendo a cidade de cor, vida e
aroma. Essa é a natureza provando que a vida é transformação, mas que exige
paciência: as folhas que estão caindo, precisarão esperar o Inverno passar para
voltar a nascer.
E é nesse espírito que a Equipe do BLUMENEWS deseja a
você – independente da sua crença – uma ótima Páscoa ou, pelo menos, um período
positivo de transformação.
Abaixo algumas fotos da procissão que ocorreu na Catedral
sexta-feira (06/04).
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