Não sei se todos têm esse costume, mas eu particularmente
gostava de ouvir meu pai, meu avô e minha avó falando sobre um tempo que
antecedeu o meu nascimento.
E é curioso o número de empreendimentos comerciais e
profissões que simplesmente não existem mais. Os exemplos são muitos, mas só
para citar os mais conhecidos, temos: empresas de aluguel de telefones, reveladoras de
slides, ônibus elétricos e datilógrafos.
Os balzaquianos (pessoas na faixa dos 30 anos) devem se
lembrar da época em que surgiram as locadoras de CD e o negócio se espalhou
pelo país inteiro como uma febre. De Blumenau à Recife era muito comum
encontrar jovens fazendo filas nessas empresas para alugar álbuns de seus artistas
preferidos. Eu mesmo era cliente da que ficava no Edifício Getúlio Vargas.
Mas eis que o ano de 1995 trouxe a disponibilização ao
público do formato de áudio mp3 e dois anos depois a SONY adotou esse formato de
arquivo que foi padronizado por todas as empresas do mundo. Ainda em 1997 Michael
Robertson criou um site que continha informações e arquivos sobre essa extensão
até que em 1999 Shawn Fanning e Sean Parker criaram o Napster – o primeiro
programa de compartilhamento de mp3 de computador para computador.
Este foi o princípio da queda para as então rentáveis
locadoras de CD.
A maioria das pessoas na faixa dos 20 anos sequer ouviu
falar desse empreendimento que já foi tão lucrativo, mas com certeza conhecem
videolocadoras.
O fato é que as tão populares empresas que alugam DVD
estão seguindo o mesmo rumo daqueles que trabalhavam com CDs: a cada dia que se
passa mais e mais locadoras fecham pelo país à fora sem condições de
competir com a Internet.
O formato mais popular de vídeo – o mp4 – se eternizou em 2000, quando foi oficialmente adotado pela Apple e hoje é uma unanimidade entre
gigantes do mercado do entretenimento digital como o iTunes e o PlayStation
Network.
O surgimento dos torrents em 2001 – que consiste em um link
que permite ao usuário fazer downloads que qualquer tipo de arquivo indexado em
qualquer site da Internet e que só 2005 foi responsável por 35% dos dados
digitais transferidos no mundo todo – tornou muito mais acessível baixar filmes
e seriados ilegalmente da Internet.
Potencializando a situação, surgiram as locadoras online,
que são empresas para as quais o usuário paga determinada taxa e pode receber
filmes em casa pelo correio ou baixá-los, dependendo da política de
funcionamento da empresa. No caso de baixá-los, algumas permitem que se fique
com eles por longos períodos, outras têm salvaguardas nos arquivos que os
desabilitam depois de um número de dias predeterminado. A Netflix – pioneira do
ramo que existe desde 1997 – conta com cerca de 17 mil títulos em acervo e só
em 2009 faturou mais de US$ 1,67 bilhões com seus 15 milhões de clientes.
Pelo mundo inteiro as vídeolocadoras vêm sofrendo com o
crescimento vertiginoso desse tipo de negócio e em muitos países o ramo
simplesmente entrou em extinção. Em nossa cidade a crise que se abate sobre o
setor não tem sido muito diferente.
As melhores locadoras da cidade passam por uma situação
complicada e essa semana tivemos um exemplo bastante cru dessa dura realidade.
A maior e mais tradicional videolocadora de Blumenau – a Vídeo
Shopping, localizada no principal shopping center da cidade – está fechando as
suas portas. A empresa que estava desde Dezembro de 2011 sem adquirir filmes
novos passou por um duro baque tendo que, primeiramente, vender sua filial.
Segunda-feira (13/02) a empresa conseguiu apenas alugar cerca de duas dezenas
de DVDs, o que é insustentável para as contas que tinha.
Segundo nossas fontes, a administração do shopping em
questão estava pressionando os proprietários da videolocadora a comprar o ponto
e, a julgar pela condição baixa de suas locações, eles claramente não
conseguiriam arcar com mais essa despesa.
“Para piorar a
situação deles, Fevereiro é sempre um mês onde as locações caem muito”, diz
um de entrevistados acerca do assunto.
Os donos da Vídeo Shopping fizeram uma queima total de
DVDs e só nessa sexta-feira (17/02) conseguiram vender mais de R$ 20 mil em
títulos. Sozinha, a dona de uma videolocadora do Garcia levou mais de mil reais em
DVDs. E a queima de estoque continua.
Eles fecharão definitivamente as portas neste domingo
(26/02).
É uma pena que um marco do comércio blumenauense que está
no mesmo ponto – embora tenha passado por diferentes administrações – tenha um
fim tão triste.
Em contrapartida, outras empresas do ramo – tendo como
maior exemplo a Vídeolocadora SF, do Zendron – seguem crescendo
exponencialmente indo contra todas as expectativas negativas para o setor e
provando que quando se soma uma administração competente com um atendimento
carismático, qualquer crise pode ser contornada.
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